sexta-feira, novembro 21, 2003

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.


Alexandre O'Neill

As Minhas Ilusões:

Hora sagrada dum entardecer
De Outono, à beira-mar, cor de safira
Soa no ar uma invisível lira...
O Sol é um doente e enlanguescer...

A vaga estende os braços a suster,
Numa dor de revolta cheia de ira,
A doirada cobeça que delira
Num último suspiro, a estremecer!

O Sol morreu... e veste luto o mar...
E eu vejo a urna de oiro, a balouçar,
À flor das ondas, num lençol de espuma.

As minhas Ilusões, doce tesoiro,
Também as vi levar em urna de oiro,
No mar da Vida, assim... uma por uma...


Florbela Espanca

Dedicado a Manuela Ferreira Leite